24 junho 2007

OS PASSOS DE RICARDO REIS



Aqui, no Alto de Santa Catarina, com imagem de empréstimo por ter falhado a pilha da máquina fotográfica, terminou o nosso itinerário. No Alto de Santa Catarina, a ver navios, lendo em Camões a paixão do Adamastor por Tétis, filha de Dóris e Nereu, e procurando nos prédios em redor o segundo andar onde Ricardo Reis, com escândalo das vizinhas, recebia Lídia e Marcenda.

23 junho 2007

OS PASSOS DE RICARDO REIS - AS FOTOGRAFIAS (I)


Os viciosos leitores descobrindo, junto ao decrépito edifício do Hotel Bragança, por entre um misto de assombro e arroubo contemplativo, a "pedra rectangular, embutida e cravada num murete que dá para a Rua Nova do Carvalho, dizendo em letra de ornamento, Clínica de Enfermedades de los Ojos y Quirúrgicas, fundada em 1870 por A. Mascaró."

OS PASSOS DE RICARDO REIS - AS FOTOGRAFIAS (II)


Nas Escadinhas do Duque, depois da visita à Igreja de S. Roque e à sua Capela de São João Baptista

OS PASSOS DE RICARDO REIS - AS FOTOGRAFIAS (III)



Abrigados da chuva no pórtico do Teatro de São Carlos

OS PASSOS DE RICARDO REIS - AS FOTOGRAFIAS ( IV )


Na Estação do Rossio a nota simbolista de uma escultura de D. Sebastião, o Desejado

OS PASSOS DE RICARDO REIS - AS FOTOGRAFIAS ( V )



No Rossio, com o Teatro Nacional em fundo e a sombra protectora de D. Pedro IV (afinal não se trata de Maximiliano do México)

09 junho 2007

OS PASSOS DE RICARDO REIS ( segundo o romance "O Ano da Morte de Ricardo Reis" de José Saramago) - dia 16 de Junho


Num dia cinzento de Janeiro de 1936 Ricardo Reis vai à bilheteira do Teatro Nacional comprar uma poltrona para a peça Tá Mar de Alfredo Cortez. Dona Palmira Bastos é Ti Gertrudes, Dona Amélia Rey Colaço faz de Maria Bem e Dona Lalande de Rosa. Mas pouco lhe interessa a arte de tão notáveis actrizes ou a excelência da dramaturgia em cena. Ricardo Reis não vai ao teatro pela arte de Talma e de Sara Bernhardt, vai por Marcenda, com quem se quer fazer encontrado, pois sabe de fonte certa que ela ali estará nessa noite, na companhia de seu pai, assistindo à representação da peça sobre a vida dos pescadores da Nazaré.
Ricardo Reis nem repara no elegante edifício neoclássico – a casa de Garrett. Se não tivesse a alma e os sentidos embotados pelo orvalho do amor, daria conta da beleza do pórtico da fachada – de seis colunas jónicas – que suporta um frontão triangular encimado pelas estátuas de Gil Vicente, ao centro, e de Talia e Melpómene nos extremos. E veria no frontão o tímpano esculpido representando Apolo e as Musas. Ricardo Reis, como poeta clássico, é íntimo de todas as musas, especialmente das suas, com os nomes de Neera, Cloe e Lídia.
Antes de ir para o teatro, à noite, ainda sente na pele as delícias carnais de Lídia ( não se trata da musa, mas da criada do hotel); come um bife no Martinho do Rossio, assiste a uma partida de bilhar – tudo coisas tão vulgares, tão comezinhas, que nem parecem de um poeta que trata por tu os metros de Horácio, que convive com as odes de Safo, Píndaro e Alceu.
Um homem na mudança da idade atrás de um rabo de saia de vinte e três anos! Bem lhe chegou Fernando Pessoa numa das suas extraordinárias aparições.
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Manuel Nunes