29 novembro 2010

"O BOM INVERNO" de JOÃO TORDO


Sábado, 27 de Novembro, na Biblioteca Municipal de S. Domingos de Rana: - as nossas indefectíveis leitoras Dulce Teixeira e Maria Amélia Cabrita apanhadas em "flagrante de livro".

28 novembro 2010

PLANO DE LEITURAS PARA 2011

Literatura da memória colonial
Janeiro - Jornada de África de Manuel Alegre
Fevereiro - Mayombe de Pepetela
Março - Memória de Elefante de António Lobo Antunes
Grandes autores da Literatura Portuguesa
Abril - A Queda de Um Anjo de Camilo Castelo Branco e
            O Fidalgo Aprendiz de D. Francisco Manuel de Melo
Maio - Eurico, o Presbítero de Alexandre Herculano
Clássicos da Literatura Estrangeira:
Junho - Madame Bovary de Gustav Flaubert
Julho - O Estrangeiro de Albert Camus
Crónicas e autobiografias
Agosto – Uma Crónica da Pesca do Bacalhau de Joaquim Rebordão Leitão
Setembro - O Mundo à Minha Procura, 1º volume, de Ruben A.
Vamos ao teatro

Outubro - Hamlet de William Shakespeare
Ficção científica
Novembro - Solaris de Stanislaw Lem
Natal
Dezembro - Contos de Natal de Charles Dickens
= As sessões realizam-se na última sexta-feira útil de cada mês =

22 novembro 2010

Os Carvalhos de Ryme

“…. A South Cottage era uma miniatura. Mal dava para uma pessoa mas para Hugh era perfeita. Encontrava-se no fim do arvoredo e estava rodeada pela colecção de carvalhos. Hugh conhecia o Quercus cerris, o Quercus rubra, o Quercus coccinea, o Quercus ilex e aí parava, maldizendo os limites da sua sabedoria, que o impediam de isolar e saber o nome das outras setenta e uma espécies de carvalhos existentes no seu recanto….” In Os Homens que amaram Evelyn Cotton



 Por ordem: Quercus ilex, Quercus coccinea, Quercus rubra, Quercus cerris

Gosto muito de carvalhos e também eu, por vezes, mal digo o meu conhecimento por saber tão pouco sobre eles.
O livro está a ser uma surpresa muito boa. Conhecer os homens da vida de Evelyn e o amor resignado (será?) que o narrador tem por ela, leva-me por caminhos curiosos que desbravo com um agrado inesperado…

20 novembro 2010

"OS HOMENS QUE AMARAM EVELYN COTTON"

Acabei de ler. Cito uma passagem do narrador na parte final do livro: Descrevo todos os pormenores deste amor estereotipado, mas, quanto mais falo sobre ele, mais me convenço de que é pouco provável que o amor exista. Amor é uma palavra abrangente e muito cómoda que utilizamos para disfarçar as razões complicadas que nos levam a querer o apoio de outra pessoa. Não digo que me identifique a cem por cento com esta perspectiva do amor, mas lá que me pôs a pensar, pôs. Digam coisas, ou será que se reservam para a sessão?

10 novembro 2010

Palavras para que vos quero (2)

O DESCONCERTO DOS AMANTES


Serena está deitada de costas na cama, a cabeça sobre as mãos numa nudez irrepreensível que me magoa os sentidos. Recorta-se a linha do corpo contra o cetim da colcha, o prodígio dos seios, a pele muito branca, o tufo de sombra dos pêlos púbicos. Faz-me mal vê-la assim, como um nu deitado de Modigliani fora do tempo e do espaço, sorrindo e entreabrindo as coxas como se se preparasse para os delírios do amor. Pela persiana que não está completamente fechada entra no quarto uma fresta da luz da tarde… Mas nada disto que vejo tem existência real. Serena não está comigo, deixou-me há muito tempo. Saiu de casa dominada por um inesperado desencantamento, e dela conservo na memória estas imagens que projecto como holograma no espaço vazio do meu quarto. Vejo-a sempre assim desde o dia da sua partida. Todos os dias.
Não foi paixão, disse-me, não passou tudo de uma grande admiração que me tomou, uma errada percepção de sentimentos, um turbilhão de ideias desordenadas. Pensava ser amor, mas afinal era apenas deslumbramento. Cegou-me a tua luz, fragilizei-me, mas agora que habituei os olhos a esse fulgor já sou capaz de compreender a verdadeira expressão do que sinto.
Subo a persiana e encho o espaço do quarto de claridade. Serena volta-se de bruços, como se a luz e o ar quente da tarde lhe causassem incómodo ou apenas quisesse subtrair o rosto à observação dos meus olhos. Vejo-lhe as ancas e o anel da cintura, os ombros estreitos, o torneado das nádegas e das pernas.
Já não te sinto, disse-me, não consigo viver com este afecto mudo, como se me bastasse o teu olhar para saber que me amas.
Senta-se na borda da cama e faz tenção de começar a vestir-se. Toma as roupas que jazem em desalinho sobre o cadeirão. Enfia os braços nas mangas da camisa, veste as calças. Está agora de pé, virada para mim, a camisa desabotoada, os cabelos soltos caindo sobre os ombros. Apetece-me tocar-lhe nos seios… Mas não adianta pensar nisso. Serena não está aqui e o que vejo não passa de uma ilusão amarga que se meteu no meu quarto e me faz sofrer.
Só me desejas pela minha beleza, disse-me, nunca foste capaz de me ler a alma. Para ti não passo de um corpo e de um sexo.
É verdade que te desejo pela tua beleza, sim, a beleza é o pão dos olhos, não sei viver sem ela. Mas não me peças que te fale de amor. São redundantes todos os discursos amorosos, são frágeis as palavras quando nos propomos explicar os sentimentos. As palavras são sons, apenas sons, signos inconsequentes que não suplantam a eloquência dos olhos, o toque das mãos.
Serena acaba de se vestir. Passa a escova pelos cabelos olhando-se no espelho. Sai do quarto, e eu oiço bater a porta que dá para a escada. Sinto-me asfixiar dentro do espaço fechado. Chego à janela que se abre para o precipício da rua e vejo-a sair. Olho-a, sigo os seus passos pela calçada. Sinto-me cansado. Respiro profundamente bebendo a grandes sorvos a aragem quente. E encho-me da luz da tarde até cegar, como um pássaro doido voando no abismo.

= Publicado no blogue "Disperso Escrevedor" em 3/6/2006 =

06 novembro 2010

A (NOSSA) NOITE DO ORÁCULO - Paul Auster

Sessão da Comunidade de Leitores de SDR de 29 de Outubro de 2010

Se eu tivesse que explicar a alguém de fora, de forma detalhada (e não parcial, como costumo fazer sempre que tenho de apresentar a Comunidade), o que somos, entre outras informações, teria de referir o facto de todas as sessões resultarem diversamente e, por vezes, saldarem-se por inesperadas surpresas.

Diria que, pelo menos para mim, esta foi uma dessas, pois uma leitura que me deixou uma certa perplexidade (para não dizer desilusão), foi largamente compensada pela riqueza e variedade de pontos de vista resultantes da partilha dos participantes.

E porque nem sempre é fácil sintetizar as ideias que ali, à volta da mesa, se vão debicando entre uma bolacha e uma pinga de chá, resolvi, desta vez, fazer um pequeno exercício, que acaba por ser muito pessoal, já que passa por uma escolha, e pelas limitações dos registos efectuados.

Assim, pessoalmente, o que me cativa mais é o resultado do debate, as reflexões, extrapolações, sínteses e ideias novas que vão ali tomando forma e, às tantas, já não são deste ou daquele, mas nossas; o livro e a leitura são-no enquanto tal, mas também são objectos de apropriação— bastas vezes nos demos conta do nosso papel activo de leitores.

Ora o nosso Oráculo, que para mim não prenunciava nada de especial (embora estivesse na expectativa), deu origem a um interessante debate e, sobretudo, à emergência de algumas questões importantes, o que passo a sintetizar.

- Da leitura resultou em parte a sensação de que tudo era muito real; as histórias contadas como realidades umas dentro das outras, em que o quotidiano tinha um papel tão importante, que quase nos sentimos parte da trama.

- O que poderá parecer (a mim pareceu-me) uma composição de episódios sem grande ligação num conjunto sem coerência, revela afinal potencialidades inesperadas. Uma delas é a confiança, como valor que percorre toda a narrativa, sendo até o suporte do desenrolar das relações entre os protagonistas, incluindo o narrador (deste com a Grace, com o chinês, com Ed, etc).
Outro aspecto decorrente daquela aparente falta de remate das várias histórias que o autor põe em andamento sem lhes dar um final convencional, é o deixar muitas questões em aberto, remetendo para uma reflexão acerca da poética do inacabado, com tanta relevância na arte e no pensamento.

- A importância do sentido... porque, como diz o João, uma narrativa contém sempre uma promessa de sentido: neste caso, este seria, para o narrador, o amor pela mulher, o querer a todo o custo ficar com ela, que justifica tudo o que ele ultrapassa, num respeito exacerbado pela individualidade de Grace, na ignorância assumida do seu passado.
Por outro lado, a ideia, interessantíssima, de que o amor não se esgota, ainda que partilhado, e Grace está no epicentro do amor, entre dois homens que a amam. Como colocar esta questão, que é de ambiguidade, face aos preconceitos vigentes quanto a amor e fidelidade?

- Também se fala de sentido, quando se percebe que, na relação do narrador com a história de Bowen (por sua vez baseada na de Dashiel Hamett), também a ele lhe ia caindo em cima uma grande viga ou gárgula, simbolizada pela revelação da infidelidade de Grace! Ao contrário das histórias referidas, ele vai conseguir ultrapassar a questão e manter a sua primeira vida, dando expansão aos afectos (é essa a mensagem final do livro).
Um paralelo interessante é possível traçar entre o destino do protagonista de D.H.— que se limita a reconstruir uma vida familiar idêntica à que tinha, caindo na mesma rotina— e Nick Bowen, que acaba fechado num bunker, num beco sem saída (que é a própria vida, faça-se o que se fizer?).

- A possível premonição da escrita, o seu poder de antecipação, de predição (daí o Oráculo?)... O autor apresenta vários encadeamentos de coincidências. Quantas vezes nos acontecem também? Isso significa, de acordo com a desconstrução do tempo do autor, que cada um tem em si o passado e o presente, estando a cada instante grávido do futuro e, mais concretamente, “escrever é fazer as coisas acontecerem no futuro”?
A verdade é que são preocupações deste teor que levam o autor a destruir o Caderno Português e todo o seu conteúdo narrativo.

- Dir-se-ia também que um certo automatismo vai de par com a busca de sentido para a vida; trata-se de aspectos que não controlamos, como a inspiração (de onde vem, como interpretar o facto de os artistas se sentirem compelidos a produzir, como um sortilégio?); a força do acto criativo— usar a inspiração ou ser usado, na simbiose final entre matéria e universo, que é a obra de arte?

- Na desconstrução, patente na estrutura do texto, o autor põe a descoberto também as dificuldades do escritor, que, como homem comum, se defronta com problemas (de falta de inspiração?), e não consegue acabar o romance.
Neste caso, o autor parece ter recusado algumas saídas, que ocorrem ao leitor, como, por exemplo, tudo se tratar de um sonho de alguém em estado de coma. (Pelo contrário, o acto de escrever no caderno, pode concretizar um percurso de recuperação, uma autêntica profilaxia...).

Conclusão: já lemos todos os tipos de romances, dos românticos aos realistas e mesmo surrealistas... A Noite do Oráculo, que à partida apresenta algumas quebras de normas (reprodução da lista telefónica de Varsóvia como memorial; as notas de rodapé, com esclarecimentos importantes), aponta outra possibilidade, vindo ao encontro do leitor— qual o destino dos personagens, quais os desfechos? Tudo encerra uma grande liberdade, valor que vem de par com todos os já apontados e se inscreve na questão essencial que é a busca de sentido e a noção da fragilidade da vida, com a conclusão de que a confiança e o amor são preciosos, e que a vida é um milagre que se tem de agradecer.

04 novembro 2010

Os homens que amaram Evelyn Cotton – 26 de Novembro às 21h00

(não encontrei uma foto da capa portuguesa com tamanho adequado para publicação)
A abrir:
“Estou apaixonado por Evelyn Cotton há vinte e quatro anos e quatro meses menos oito dias. Fizemos amor duas vezes. A primeira foi há vinte e três anos. A segunda foi ontem. Será que isto faz desta uma história triste e de mim uma figura cómica?”