26 dezembro 2012

NATAL POÉTICO II








Arriscar uma certa contra-mão, infringir, de algum modo, os costumes, reinventando as noites, ditas especiais, pode ser desconcertante e, por isso mesmo, compensador.
Já a ceia pouco natalícia, com o bacalhau metamorfoseado em pataniscas, acompanhado do tomatado arroz, tinha sido manducada a quatro bocas, mai-las repetidas sobremesas, quando surgiu a primeira visita poética, a Etel, largando sorrateiramente a família, mas vindo equipada com deliciosas filhoses, bondosamente surripiadas à natalícia mesa.
Cumprimentos, conversa, adivinhas e prendinhas, bebe aqui, petisca acolá … E não há meio de chegar o resto do pessoal! Onde vão as 23 horas combinadas… E os poemas a arrefecer…
Aquela gente evaporou-se, ou antes, evaporou-se a ideia de nos reunirmos… meia noite, nada.
Vai-se embora a primeira participante, sem participar, mas eis que aparece a inesperada, mas bem vinda Sandra, num halo de fumo (não tão bem vindo).
Mais entretém, chegam, não chegam, vêm não vêm, lá acabam por adregar à Costa dos Sete Castelos os três intrépidos em falta! Meia noite e Meia!
Verdadeira quasi-vigília foi a sessão de poemas. Esperem pelo fenómeno!
Em primeiro lugar, é justo que se adiante, o nosso poeta de serviço (já pegou o dito) teve uma prestação de aplaudir, com uma criteriosa seleção de poemas, nem  todos fáceis de ler e apreender (e vice-versa), mas o Espírito Poético, que nos visitou o ano passado, por especial sortilégio de Mr Scrooge, fez também das suas este ano e, quando demos por ele, tinha-se instalado, refasteladamente, entre nós!… Senão vejamos: num primeiro momento, ora agora dizes tu, ora agora digo eu, foram os poemas selecionados circulando, intercalando vozes femininas e vozes masculinas, algumas vezes era necessário repetir, para saborear melhor (alguns não eram para entender). Depois a coisa entrou numa roda que parecia livre, mas vendo bem as coisas, era o Espírito Poético a conduzir, pela noite dentro, o pessoal insone.
Sucederam-se então quase todos os poemas enviados por alguns; e as escolhas pessoais iam surgindo: pontuaram  João de Deus, Sophia de M. Breyner, Sebastião da Gama, António Gedeão, a nossa amiga madeirense Lucília, entre outros; não faltou um soneto de Camões; lembrámos Mário Dionísio e Garrett (Garretxi), a evocar Santarém  e a Joaninha. Mas quando demos por isso, estava a Manuela a cantar a Barca Bela e dali até à Samaritana foi um pequeno passo, acompanhada de perto pela emoção do nosso amigo e poeta. Ai Fado!
Conclusão: Eram 2.30h, o dia 25 de Dezembro a empurrar, com tarefas a cumprir e o Espírito a refilar, que queria continuar com a poesia e o cantorio, pois então!
Depois de todos saírem, tentei apagar as velas, mas só consegui depois de prometer ao Espírito que não vamos esperar UM ANO para voltar a convocá-lo assim, com simplicidade, sem qualquer pretensão a não ser esta: o pretexto da Beleza e da Palavra, que nos congregam para além de todas as diferenças!
É verdade: obrigada a todos os participantes, os presentes e os outros, apenas fisicamente ausentes. Acho que a certa altura estávamos ali todos! Coisas do Espírito!

NATAL 2012




















Sandro Botticelli (1444-1510). A Virgem com o Menino,
Museo Poldi Pezzoli, Milão


Em Prol das Leituras do próximo ano!

22 dezembro 2012

Poema de NataL


De novo o alarde rútilo dos luzeiros de NataL, o colorido
das árvores, a música que alastra sobre o plasma
da noite. Estou do lado de cá da festa, na margem
do passeio, rente à sombra dos muros por onde crescem,
quando é tempo, os  braços meigos das buganvílias.
Vejo de fora, através das janelas, o recorte de lentas
figuras de cera. Transportam no bojo, como numa
mala, a inexequível persuasão da vida, o pano gasto
de alegrias reeditadas em cada época. Nada me move,
nada me comove. Peço-te, por isso, que não venhas
agora: para além do mais seria de mau gosto
e nada adiantaria ao nosso caso. Deixa que se extingam
as volutas da quadra e procura-me depois, pela manhã
de um tempo mais verdadeiro e mais humano.

JOSÉ RAFAEL

21 dezembro 2012

Nesta época natalícia de «comezainas», continuemos «devoradores de livros».
FELIZNATAL

17 dezembro 2012

AS PEGAS DE SINTRA

Palácio Nacional de Sintra, Sala das Pegas
 
O caso dos meus amores andava mais público do que eu podia supor. Entretanto sorri, um sorriso curto, fugitivo e guloso – palreiro como as pegas de Sintra.
 
 Memórias Póstumas de Brás Cubas, capítulo LXXXII Questão de Botânica


16 dezembro 2012

Para quem gosta dos clássicos e não se amedronta perante os vastos e densos «russos», aqui está uma nova versão cinematográfica, teatral e inovadora, desta obra tantas vezes revisitada pelo cinema. De salientar os excelentes actores (os olhos marejados de lágrimas de Keira Knigthley dizem tudo sobre o sofrimento interior de Anna, vítima de si, da sociedade que a rodeia, dos desacertos do mundo e do amor).
De revisitar ,mesmo, é a extensa obra de Tolstoi, um livro de sempre (coragem para as seiscentas e tal páginas em letra miúda da edição que aqui tenho), que não se esgota na história infeliz de Anna Karenina. O realizador , Joe Wright, já assinou as adaptações de Orgulho e Preconceito e Expiação, com a mesma protagonista.

Segue uma crítica:

«Regressamos ao séc. XIX, re-imaginado sob a alçada da opulência da alta-sociedade russa, para revisitar a história da personagem titular, uma famosa aristocrata que se vê envolvida num caso extraconjugal que colocará em causa o seu estatuto na sociedade e família. A exploração da capacidade de amar, em todas as suas formas, nasce das palavras do celebrado autor russo Leo Tolstoy, que vê a sua obra adaptada para o argumento do dramaturgo inglês Tom Stoppard.
Parafraseando William Shakespeare, “o mundo inteiro é um palco, e todos os homens e mulheres não passam de meros atores; têm saídas e entradas, e cada um no seu tempo representa diversos papéis”, e Joe Wright cria aqui um conceito que é simples de explicar, mas terrivelmente difícil de executar: o romance é apresentado como uma peça dentro de um filme, um olhar microscópico sobre a vida deste pedaço de aristocracia, da bancada de uma produção teatral, usando apenas, quando estritamente necessário, uma linguagem e expressão cinematográfica mais tradicional, um pouco incompreendida entre a crítica, que praticamente apelidou a sua abordagem de “salta-pocinhas de necessidade”.
O dispositivo aparentemente bifurcado serve, no entanto, um claro propósito de comentário social sobre a forma como a alta sociedade tem sempre um papel a representar e, por oposição, como a vida rural e simples é sinónimo de uma vivência mais real e orgânica, livre da artificialidade.
Não são mecanismos subtis, mas é também essa exposição “desavergonhada” que torna “Anna Karenina” num pedaço cinematográfico com sabor igual a nenhum outro. O conceito é visual e intelectualmente estimulante, um exercício de interseção entre literatura, cinema e teatro que, apesar de não ser a melhor incursão do realizador – nunca consegue suplantar o poder dramático e emocional de “Orgulho e Preconceito” e “Expiação” – é entusiástico, corajoso e vistoso.
Keira Knigthley cria uma Anna complexa e contraditória, que tanto é heroica como quase vilanesca, fazendo revisitar o eterno dilema sobre a protagonista: será ela uma vítima do seu posicionamento numa sociedade patriarcal, ou uma mulher neurótica e narcisista?
Se Jude Law fosse dez anos mais novo, seria uma escolha óbvia para interpretar o fervoroso Conde Vronsky sendo, como já veio a provar em papéis semelhantes, fabuloso. Felizmente, a cara laroca vem acompanhada de talento, e é uma lufada de ar fresco ver Law num papel que foi tantas vezes o dos seus “rivais” românticos, e o ator britânico vive-o intensamente.
O erro mais gritante da produção jaz no casting do Conde Vronsky, e Aaron Taylor-Johnson (que tinha dado promissoras indicações em “Selvagens”, de Oliver Stone, ainda este ano) cria um amante esmagado pelo uniforme e opulência do seu bigode que, além do visual manifestamente agradável à vista, poucos mais atributos apresenta à emoção que justificassem uma qualquer pinga de simpatia por si.
O maior e definitivo problema de “Anna Karenina” é, infelizmente, dramático. Resumir uma obra de mais de 800 páginas a duas horas é uma luta desigual e impossível de vencer perante todos aqueles que já viajaram pelas páginas envelhecidas de Tolstoy. A tragédia é condensada e acelerada, mas mesmo assim, fica a ideia de que algo poderia ter sido feito para tornar esta tragédia naquilo que ela verdadeiramente foi: uma tragédia com grandeza e poder de ópera, e não um simples melodrama.
De todo o modo, “Anna Karenina” pode ter falhado algumas notas pelo caminho - como o fez -, mas criou, mesmo desse jeito e forma, um evento cinematográfico, um tema de conversa, um filme que ambicionou quebrar as convenções da tradição de filmar uma história, contando-a numa espécie de híbrido de meios. Um quadro vivo transposto para um orgasmo visual, uma espécie de ballet sem dança infundido numa ópera sem cantores.
Consegui-lo com este grau de sucesso é um feito, e o que sobra são duas horas do mais ousado, sumptuoso, luxuoso e belo Cinema do ano.
E aí está ela. A deixa para aplaudir de pé.»
Por: Catarina D'Oliveira
 

15 dezembro 2012

Memórias Posthumas

«Todavia, importa dizer que este livro é escrito com pachorra, com a pachorra de um homem já desafrontado da brevidade do século, obra supinamente filosófica, de uma filosofia desigual, agora austera, logo brincalhona, cousa que não edifica nem destrói  não inflama nem regela, e é todavia mais do que passatempo e menos do que apostolado.»

Ainda o Grande Gatsby

Capa da edição original de 1925
F. Scott Fitzgerald marcou e «criou» a geração dos «loucos» anos 20, a «geração perdida» entre as Guerras, para a qual é necessário viver a todo o custo, apesar de tudo e todos. Tanto pela sua obra como pela sua vivência pessoal.
O grande Gatsby é o epítome da «Jazz age», das «flappers», das festas loucas, personagens ao sabor do vento, fazendo tudo o que lhes é permitido,  numa América que saboreia uma «libertação» moral, o progresso técnico e o dinheiro fácil. Gatsby aparece como uma materialização do «sonho americano»: o enriquecimento (de que forma?), que permite a qualquer um ser «alguém», ir a qualquer lado, conquistar tudo, alcançar o sonho. Paradoxalmente, o sonho de Gatsby é um desejo de aceitação, de reinvenção, para alcançar um vácuo passado de ecos românticos. Contudo na «terra dos sonhos», nem estes se alcançam ou se compram. Ou se tornam realidade...Realidade que se revela, sob as rodas de um carro veloz, no «Vale das Cinzas», que separa dois mundos distintos na «terra de todas as oportunidades» e supostas igualdades, onde as personagens amorais vagueiam sob o olhar sem face do Dr. J. T. Eckleburg...

O EMPLASTO, cap. II


A PEDIDO DE ...

13 de Dezembro -- Nova aventura de Os Cinco na Biblioteca Municipal de Cascais. Apanhados à sombra da árvore-de-Natal-de-livros quando iam em demanda de "O Grande Gatsby" de F.Scott Fitzgerald. Um deles parece que está a dormir, e mesmo assim sorri.

14 dezembro 2012

"MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS" - Sexta-feira, 28 de Dezembro, 21 horas

maalilustrações - www.maal.com.br
 
EXORTAÇÃO A QUEM AINDA NÃO TENHA COMEÇADO A LER
 
Cheguei ao capítulo XII, “Um episódio de 1814”, onde se fala da primeira queda de Napoleão e do regozijo público na sociedade colonial do Rio de Janeiro, do tráfico negreiro, de um espadim de menino, e também de um exímio glosador – Vilaça, de seu nome – que conhecera Bocage no Nicola e beijava senhoras ao lusco-fusco, por detrás das moitas, com os olhos chispados de vinho e de volúpia.
LEIAM QUE NÃO CUSTA NADA, ABSOLUTAMENTE INDOLOR!


12 dezembro 2012

VERÃO DE 1922 - "A reivindicação do amor"

Um desenho torrencial de sentimentos e ilusões no pino do Verão. Um saxofone rouco por entre o bulício da City e a perícia veloz de bootleggers e especuladores bolsistas.  Um sopro de jazz, um clarão eléctrico e industrial, um hidroplano na baía clara. Rosy Rosenthal, o velho restaurante Metrople e o crime. A reivindicação do amor, o amor traído. A aceleração letal  dum carro amarelo, um fato cor-de-rosa sobre o green do jardim da casa, uma piscina com fios de sangue, perecendo de folhas.
Não basta o desenho, é preciso ler nas linhas de fuga que o conformam.
 

Na Comunidade de Leitores da Biblioteca de Cascais, 13 de Dezembro, 18:30, ciclo de leituras “A Reivindicação do Amor”.

07 dezembro 2012

Comunidades de Leitores

O Nosso Tempo de 04 Dez 2012 - RTP Play - RTP

Mão amiga fez chegar à nossa Leitora Joca e ela que gosta de partilhar fez-nos chegar a todos. Porque estes momentos merecem registo, cá fica para memória futura. Ora espreitem a partir do minuto 18, que bem que está representada esta nossa Comunidade!

06 dezembro 2012

MACHADO e EÇA

Machado de Assis (1839-1908)
 
As relações entre os dois grandes mestres do realismo de língua portuguesa foram praticamente inexistentes. Porém, uma crítica de Machado de Assis em O Cruzeiro (16 e 30 de Abril de 1878) poderia ter dado origem a uma polémica com Eça de Queiroz. Por razões um tanto enigmáticas, não deu. Eça fez-se de orelhas moucas e só indirectamente veio definir a sua posição sobre o assunto.
Que dizia Machado? Em primeiro lugar, que Eça imitara Zola no seu romance La faute de l’ abbé Mouret ao escrever O Crime do Padre Amaro (2ª versão da obra, que foi a lida pelo escritor brasileiro); depois, que O Primo Basílio, em Luiza e no fundamental da construção romanesca, era concupiscente, repugnante e de um erotismo inaceitável; finalmente, que nada desta literatura era comparável com obras do romantismo português e brasileiro como O Monge de Cister, o Arco de Santana ou o Guarany.
Machado de Assis ainda não tinha publicado, por esta altura, os romances realistas que o tornaram célebre: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó. Também ele fez o seu caminho do romantismo às formas avançadas da nova arte. Eça e Emília (a esposa) liam-no em Paris, e certamente o admiravam.
Diz-nos A. Campos Matos no seu livro Sobre Eça de Queiroz (Lisboa, Livros Horizonte, 2002): “Quando Eça morreu, Machado quebra o seu silêncio escrevendo: ‘Que hei-de eu dizer que valha esta calamidade?’. Nesse mesmo texto, de uma carta, confessou que começara em Eça pela estranheza acabando pela admiração. É caso para dizer, citando Fernando Pessoa, ‘primeiro estranha-se, depois entranha-se’…”.

03 dezembro 2012

ESTE MÊS

Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis
 
AO VERME
QUE
PRIMEIRO ROEU AS FRIAS CARNES
DO MEU CADÁVER
DEDICO
COMO SAUDOSA LEMBRANÇA
ESTAS
MEMÓRIAS PÓSTUMAS


CLARICE, AINDA

JOANA
(no capítulo “O Encontro de Otávio”)

                      A todos os que não compreendendo, compreenderam

A noite dobrava-se inquieta sobre o dorso dos pássaros,
o luar e a sombra estalavam nos móveis do quarto
e as asas do sonho trespassavam de verbos o poliedro
infinito das sensações. Pensou: “Sou a onda leve
que não tem outro campo senão o mar” – mas talvez
nem chegasse a acreditar no que pensava… Cercava-a
uma auréola de ínvia maldade, o poder desmedido
de se sentir mulher e conhecer o futuro das palavras
muito antes de elas se tornarem presente e passado.
Do amor, intuía que era um lugar de onde se podia fugir
pela porta dum livro ou duma grande ideia, enquanto
na cama, a seu lado, frágil como uma folha ou um fruto,
o homem soprava a lenta respiração do sono: insciente
e inerme, pronto para morrer e ser esquecido. 

JOSÉ RAFAEL

20 novembro 2012

"Tenho várias caras. Uma é quase bonita, outra é quase feia. Sou um o quê? Um quase tudo".

Aqui vão mais umas informações sobre a nossa autora:


"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."



Em Maio (1976), corre o boato de que a escritora não mais receberia jornalistas. José Castello, biógrafo e escritor, nessa época trabalhando no jornal "O Globo", mesmo assim telefona e consegue marcar um encontro. Após muitas idas e vindas é recebido. Trava então o seguinte diálogo com Clarice:

J.C. "— Por que você escreve?

C.L. "— Vou lhe responder com outra pergunta: — Por que você bebe água?"

J.C. "— Por que bebo água? Porque tenho sede."

C.L. "— Quer dizer que você bebe água para não morrer. Pois eu também: escrevo para me manter viva."

http://www.releituras.com/clispector_bio.asp

“Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. O ‘amar os outros’ é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca [...].”



"... eu só escrevo quando eu quero, eu sou uma amadora e faço questão de continuar a ser amadora. Profissional é aquele que tem uma obrigação consigo mesmo de escrever, ou então em relação ao outro. Agora, eu faço questão de não ser profissional, para manter minha liberdade."



Uma muito jovem Clarice Lispector:

«(...) o baton escurecido em mancha velha de sangue, o rosto esbranquiçado sob os cabelos...(...)» in Perto do Coração Selvagem

17 novembro 2012

CLARICE EM LISBOA

 
Veronica Lake (1922-1973), actriz de Hollywood

"Imaginem que os portugueses, quando eu passo, dizem: B'ronica Lake (Verônica Lake)... Sair do Brasil para ouvir isso..."

De uma carta de Clarice Lispector - com data de Lisboa, 7 de Agosto de 1944 - para as irmãs Elisa e Tânia (Minhas Queridas, Rio de Janeiro, Editora Rocco, 1977, p. 41).

16 novembro 2012

OUTROS CAMINHOS

Um dinâmico sector da nossa Comunidade, ontem, na Casa da Horta (Biblioteca Municipal de Cascais), após uma sessão de leitores à volta de “Werther” de Johann Wolfgang von GOETHE.

04 novembro 2012

50 LIVROS bis

50 livros! Ainda me faltam uns quantos, mas vou fazendo pela vida... Algures por aí com um sumo de uva e as Confissões do bispo de Hipona.

27 outubro 2012

"Perto do coração selvagem" de Clarice Lispector, 30 de Novembro às 21 Horas


Esta é a capa do livro que li em 1983.
Será o mesmo livro que me acompanhará na próxima sessão de leitores.

"Ele estava só. Estava abandonado, feliz, perto do selvagem coração da vida."
James Joyce



AINDA JORGE AMADO

"Jantar organizado no restaurante do aeroporto de Lisboa, em Janeiro de 1953. Podem ver-se, da esquerda para a direita, o editor Francisco Lyon de Castro, Mário Dionísio (semiencoberto), Alves Redol, Maria Lamas, Jorge Amado, Ferreira de Castro, Carlos Oliveira, José Cardoso Pires, João José Cochofel, Fernando Piteira Santos e Roberto Nobre. Ao fundo, em último plano, à esquerda, vê-se o inspector da PIDE Rosa Casaco (mais tarde envolvido no assassinato do general Humberto Delgado). Todos os outros elementos que se vêem ao fundo, à direita, e os que estão em primeiro plano, de frente, eram também agentes da polícia política."
ÁLVARO SALEMA, Jorge Amado, o Homem e a Obra, Presença em Portugal, Publicações Europa-América, 1982, p. 48.

26 outubro 2012

A fechar


“… E pela madrugada, quando as sombras ainda envolviam os campos húmidos de orvalho, e no ar se elevava a quele cheiro poderoso de terra, Nenén partiu para a caatinga pelo mesmo caminho seguido um dia por Jerónimo e sua família. Os brotos de dor e de revolta cresciam naquela seara vermelha de sangue e fome, era chegado o tempo da colheita.

Final de “Seara Vermelha” de Jorge Amado.
* As fitinhas têm impressos nomes de personagens criados por Jorge Amado nos seus vários romances.

24 outubro 2012

Os caminhos da fome

“Os Retirantes” - Portinari, 1944
 “…E através da caatinga, cortando-a de todos os lados, viaja uma inumerável multidão de camponeses. São homens jogados fora da terra pelo latifúndio e pela seca, expulsos de suas casas, sem trabalho nas fazendas, que descem em busca de São paulo, Eldorado daquelas imaginações. Vêm de todas as partes do Nordeste, na viagem de espantos, cortam a caatinga abrindo passo pelos espinhos, vencendo as cobras traiçoeiras, vencendo a sede e a fome, os pés descalços nas alpergatas de couro, as mãos rasgadas, os rostos feridos, os corações em desespero. São milhares e milhares se sucedendo sem parar…”

 
In “Seara Vermelha” de Jorge Amado (Livro primeiro, Os caminhos da Fome, A caatinga)

21 outubro 2012

PLANO DE LEITURAS PARA 2013

Pintura de DANIEL F. GERHARTZ (n. 1965)
 
1º trimestre – Românticos e não só
25 Janeiro – Uma Família Inglesa de Júlio Dinis
22 Fevereiro – Viagens na Minha Terra de Almeida Garrett 
22 Março – A Tempestade de Ferreira de Castro
2º trimestre – Outras leituras
26 Abril – Satiricon de Petrónio
31 Maio – Predadores de Pepetela
28 Junho – A Arte de Amar de Ovídio
3º trimestre – Literatura estrangeira
26 Julho – Sputnik, Meu Amor de Haruki Murakami
30 Agosto – A Metamorfose de Franz Kafka
27 Setembro – O Estrangeiro de Albert Camus
4º trimestre – Contemporâneos portugueses
25 Outubro – Nenhum Olhar de José Luís Peixoto
29 Novembro – História do Cerco de Lisboa de José Saramago
27 Dezembro – O Retorno de Dulce Maria Cardoso

04 outubro 2012

"Seara Vermelha" de Jorge Amado, 26 de Outubro às 21h00



“Lá vem Lucas Arvoredo
Armado com seu fuzil.
O sertão treme de medo,
Já matou pra mais de mil...

Lá vem Lucas Arvoredo
Armado com seu fuzil...
Menina, não tenha medo,
Meu apelido é gentil...
…”

Assim canta Bastião, em noite de festa, os feitos de Lucas Arvoredo, em “Seara Vermelha” de Jorge Amado

26 setembro 2012

"ERASMO DE ROTERDÃO"

Não sou grande leitor de biografias, mas ando interessado nesta: Erasmo de Roterdão, de Stefan Zweig, tradução de Alice Ogando. Uma honesta edição de 1943 da Livraria Civilização-Editora.

20 setembro 2012

NOVO LIVRO DE MÁRIO DE CARVALHO

O Varandim, seguido de Ocaso em Carvangel, hoje apresentado na FNAC do Chiado. A matéria destas novelas tem que se lhe diga, assim o deu a entender António Mega Ferreira. Os nossos leitores, claro, estavam lá. A literatura não dá dinheiro, não trabalha para a redução do défice, mas mesmo assim a sala estava cheia. Só dos nossos éramos oito: aí  estão, na fotografia, duas leitoras que se deixaram apanhar.

12 setembro 2012

ERASMO e DAMIÃO DE GÓIS

Damião de Góis (1502-1574), retrato a carvão por A. Dürer
 
" Leitor assíduo de Erasmo, Damião de Góis fez a sua aprendizagem do erasmismo directamente com o mestre. A posição privilegiada que ocupava no Norte da Europa, a sua inteligência e, segundo o próprio Erasmo, a sua simpatia, fizeram com que tivesse um contacto muito regular com o grande humanista e acabasse por consolidar uma amizade que lhe permitiu viver hospedado em sua casa por alguns meses. Erasmo mostrará com Damião de Góis sempre deferência; seja ao procurar que ele aprofunde os seus estudos de latim, seja ao aconselhar-lhe comedimento nas relações com o mundo reformado alemão. Góis será fiel a essa amizade em toda a sua vida. Logo depois de morrer o seu mentor humanista, fazendo uso do poder económico, Damião de Góis admitirá e interessar-se-á pela impressão da obra completa de Erasmo o que acabou por não conseguir. Mais tarde, perante os inquisidores, não desdirá das suas ideias e amizades e terá de defender-se pelos contactos que mantivera com Erasmo e com os reformadores, perigo que, no passado, Erasmo lhe antevira."
António Camões Gouveia, Sociedade e Cultura Portuguesas 2, Universidade Aberta.

05 setembro 2012

Elogio da Loucura, de Erasmo, sexta feira, 28 de setembro, às 21H


"O mundo é um palco e a vida um jogo de som e de fúria, representado por um louco"...eis a metáfora utilizada no início da Introdução deste livro, de Desidério Erasmo, objecto de análise na próxima sessão; nós ainda no caminho dos clássicos.

Deixo outra ideia: " A pior das loucuras é, sem dúvida, pretender ser sensato num mundo de doidos"

Leitores de todos os livros, analisai-vos!

04 setembro 2012

AVISO À NAVEGAÇÃO

Quem for aos domingos para os lados de Belém, ali nos jardins quase fronteiros aos Jerónimos, tenha cuidado que pode topar com uma feira de velharias, livros, etc. e com exemplares preciosos como estes que lá adquiri a um preço tão baratinho, tão baratinho que até tenho vergonha de dizer. Este exemplar de Uma Gota de Sangue, 1º volume do ciclo romanesco A Velha Casa, de José Régio, é da 1ª edição de 1945.

30 agosto 2012

Viagem a Santarém

“…Nunca dormi tão regalado sono em minha vida. Acordei no outro dia ao repicar incessante e apressurado dos sinos da alcáçova. Saltei da cama, fui à janela, e dei com o mais belo, o mais grandioso e, ao mesmo tempo, mais ameno quadro em que ainda pus os olhos.
No fundo de um largo vale aprazível e sereno está o sossegado leito do Tejo, cuja areia ruiva e resplandecente apenas se  cobre de água junto às margens, donde se debruçam, verdes e frescos ainda, os salgueiros que as ornam e defendem.  De além do rio, com os pés no pingue nateiro daquelas terras aluviais, os ricos olivedos de Alpiarça e Almeirim; depois, a vila de D. Manuel e a sua charneca e as suas vinhas. De aquém a imensa planície dita do Rossio, semeada de casas, de aldeias, de hortas, de grupos de árvores silvestres, de pomares. Mais para a raiz do monte em cujo cimo estou, o pitoresco bairro da Ribeira, com as suas casas e as suas igrejas, tão graciosas vistas daqui, a sua cruz de Santa Iria e as memórias romanescas do seu alfageme…”
In “Viagens na Minha Terra” de Almeida Garett, Capítulo 28º
Foto minha de ontem, tirada da janela acima descrita, na Fundação Passos Canavarro
 
Foto minha do azulejo, que penso representar a Ponte da Asseca, no mercado de Santarém
Foto minha da Fonte da Joaninha, no Vale de Santarém
Ontem, um pequeno grupo desta Comunidade seguiu os passos de Garrett e foi de Lisboa a Santarém, não de barco e nem de azêmola, mas com o mesmo interesse e curiosidade.

14 agosto 2012

MANUEL TEIXEIRA-GOMES (Vila Nova de Portimão, 1860 - Bougie, Argélia, 1941)

Na embaixada de Londres

Era uma forte rapariga de seus quinze anos, com o desenvolvimento de mulher feita, embora vestindo saia curta; a tez levemente morena ou desse tom mate, que no Norte se contrapõe ao róseo nacarado das loiras e à luz meridional se capitularia, talvez, de alvura láctea; olhos imensos e pretos, da cor do cabelo que lhe caía, solto, sobre as costas, fartíssimo e ondeado como um velo de azeviche.

("Deus ex machina", Novelas Eróticas)


10 agosto 2012

UMA COMUNIDADE MUITO CANÓNICA


A imagem não é famosa, de fotocópia hoje tirada na BN. José Régio e Alberto de Serpa em Amarante, em pleno Verão de 1950. E logo sob o regaço daquela Pietá bem nossa conhecida. Ruben A. em O Mundo à Minha Procura chama-lhe a Pietá mais bonita da estatuária portuguesa. Lembram-se?

09 agosto 2012

Uma Comunidade muito canónica...*

 Agosto 2012, a poesia na Praça da Figueira

*Agarrando na constatação do nosso mentor aqui em baixo referida, cá está a prova do crime

"Mil anos há que busco a minha estrela
E os fados dizem que ma têm guardada;
Levantei-me de noite e madrugada,
Por mais que madruguei não pude vê-la ..."

Parte de um Soneto de Francisco Rodrigues Lobo

08 agosto 2012

SOBRE O CÂNONE LITERÁRIO

---------- Parte de um artigo de VASCO GRAÇA MOURA publicado hoje em www.dn.pt

Poucas ideias devem ter sido tão discutidas na teoria literária moderna como a de cânone. Posto em questão devido a ressentimentos de vária ordem, como sustenta Harold Bloom, ou por razões teóricas mais ou menos ligadas à Linguística ou às ideologias, o cânone aspira a englobar uma lista de autores e de obras consideradas modelos de perfeição, seja à escala nacional, seja à escala ocidental, seja à escala universal. A sua estabilização, sempre a entender em termos flexíveis e abertos a sucessivas incorporações, supõe a passagem do tempo, a filtragem pela consciência colectiva e a inserção em coordenadas civilizacionais, a existência e funcionamento de critérios de valor identitários e estéticos, uma tradição analítica de comentários e uma história cultural, e provavelmente uma tensão dinâmica com sucessivos contra-cânones.
Sem pretender entrar em discussões teóricas e sem negar que haja uma certa dose de flutuação necessária no próprio estabelecimento do cânone e dos seus contornos práticos, considerando o caso português (ou, se se preferir, o dos espaços em que se fala o português) as coisas podem resumidamente ser postas assim: deveria haver um conjunto de obras literárias escritas na nossa língua que todos teriam de conhecer.
No plano do ensino, isto parece de uma evidência elementar, mas tem andado mais ou menos esquecido. Ora, reduzida às suas linhas mais simples, esta é afinal a questão do cânone literário e da sua relevância para o currículo escolar, embora esse plano, por definição, acabe por ser transcendido, pois o cânone não é propriamente uma simples ferramenta para uso do ensino, mas antes um quadro de referências indispensáveis e um complexo de elementos literários respeitante ao sistema de valores e aos interesses culturais de uma dada sociedade: incorpora uma série de modelos cuja evidência paradigmática se recorta ao longo dos sucessivos tempos históricos e se impõe à mentalidade e à sensibilidade colectivas.
Na escola, a abordagem do cânone deve ser flexível e variada. Em Portugal, antigamente, havia para tal efeito excelentes instrumentos que iam dos cadernos literários da Seara Nova aos textos da editorial Comunicação e vários outros. Havia também selectas, crestomatias e antologias que apresentavam criteriosamente passagens mais ou menos extensas de obras que faziam parte do cânone. E havia, para quem estudava, a obrigação de saber dessas obras e mesmo de conhecer algumas delas na íntegra.
Dos cancioneiros medievais a Fernão Lopes, de Bernardim e Gil Vicente a Sá de Miranda e Camões, de Rodrigues Lobo e Francisco Manuel de Melo a Bernardes e Vieira, de Bocage, Garrett e Herculano a Camilo, Eça, Cesário, Antero e António Nobre, isto para dar só alguns exemplos flagrantes do século XIII ao século XIX, os alunos de Português tinham de contactar com toda uma série de autores e isso só lhes fazia bem. Visitavam lugares escolhidos da grande literatura escrita na sua língua e, a partir desses paradigmas, tinham de proceder a vários tipos de análise e de interpretação, enriqueciam o seu conhecimento do léxico e da gramática, aprendiam figuras de estilo, adquiriam uma certa compreensão histórica e contextualizada da obra de cada autor, aperfeiçoavam grandemente o conhecimento do português como língua materna e tornavam-se capazes de utilizá-lo melhor. (...)

---------- Gil Vicente, Rodrigues Lobo - leituras e representações recentes... Uma Comunidade muito canónica.

01 agosto 2012

Quem pediu FRANCISCO RODRIGUES LOBO?

VILANCETE

Disse Inês que me queria
No tempo que me enganava;
E eu queria, ela zombava.

Deu-me mostras e sinais
Que me amava de verdade,
Cativou minha vontade
Para assim querer-lhe mais;
Cuidei que eram naturais
Os extremos que mostrava,
E eu queria, ela zombava.

Era de mim tão contente
Que assim mesmo tinha inveja,
Que o que muito se deseja
Logo se crê facilmente;
Logo ela era tão diferente
Que em tudo o que me tratava
Eu queria, ela zombava.

Foi-me assim, zomba zombando,
Vencendo por graça e riso;
Sem nunca me amar de siso,
O siso me foi tirando;
Fiquei doido, como quando
Pelo amor, que me mostrava,
Eu queria, ela zombava.

Diziam-me os guardadores:
– Olha ora por ti, Joane,
Deixa Inês e não te engane,
Que ela tem outros amores. –
Cuidavam que eram melhores
Os que comigo tratava:
E eu queria, ela zombava.

Primavera (1601)

29 julho 2012

O Príncipe, de Maquiavel, sexta feira, 31 de Agosto, às 21H





Continuamos nos clássicos.
O mês de Agosto de 2012 vai ser diferente, com esta leitura que nos leva ao mundo do pensamento político.
"Aqueles que desejam conquistar o favor de algum príncipe costumam apresentar-se-lhe com os bens que mais prezam ou com aqueles que crê em dar-lhe maior prazer."
Este foi o legado de Nicolau Maquiavel ao Magnífico Lourenço de Médicis, e também ao mundo que se interessa por política.