28 abril 2013

À descoberta do canal e não só. Açores as Ilhas do encantamento ...


"... Os cedros tornaram a ramalhar bruscamente. Agora as guinadas de vento repetiam-se. Vinha certeiro no silêncio e experimentava fortemente as árvores, que durante um segundo descreviam um círculo cheio, como peões no torpor. Mas entre duas lufadas, a quinta cerrava-se outra vez; ficava tudo compacto, debaixo de um bafo. Um cheiro a lava salgada e a seiva de cedro inebriava ..."

in "Mau Tempo no Canal", capítulo A serpente cega, de Vitorino Nemésio 

Na antecipação da nossa viagem ao Faial e ao Pico, a Comunidade lê o  maravilhoso romance de VN. 

27 abril 2013

Recordação de viagem


Eis uma pedra de xisto gravada com palavras de amizade.
Veio de Miranda do Corvo.
Foi escrita, com muita paciência, em bom português de Miguel Torga.
Faz parte do acervo da Comunidade de leitores de SDRana.
Se bem me lembro...

25 abril 2013

"SATIRICON"- histórias dentro da história

História da matrona de Éfeso, plena de sugestões e ensinamentos, narrada por Eumolpo na parte V dos fragmentos de Satiricon. De grande perspicácia e pragmatismo a interrogação da serva para a sua senhora: “Irás tu própria combater um amor que te agrada?”.

24 abril 2013

EROS E PRIAPO

Um livrinho muito educativo, comprado em Pompeia há um ror de anos.

MÚSICA E CÂNONE

Sábado, dia 20, na Biblioteca Municipal de São Domingos de Rana, à conversa com António Pinho Vargas.

19 abril 2013

"QUO VADIS?"

Petrónio acordou cerca do meio-dia e, como de costume, extremamente moído: na véspera assistira a um festim no palácio de Nero. Há já algum tempo que a sua saúde deixava muito a desejar e que ao despertar não se sentia bem-disposto. Mas o banho matinal e uma boa massagem conseguiam sempre activar-lhe a circulação preguiçosa  do sangue e reanimar-lhe as forças, de modo que ao sair do oleothequium (a última sala do banho) parecia remoçado, os olhos brilhavam-lhe e o seu aspecto era tão vigoroso que nem o próprio Otão poderia com ele rivalizar. Merecia então, e muito justificadamente, o seu qualificativo de Árbitro das Elegâncias.

---- Já estou a ler. Nunca é tarde.

07 abril 2013

Da origem do bronze de Corinto ou outra pérola de Trimalquião. Do perigo de não partir garrafas diante do Imperador.




«(...) a taça foi-lhe servida  numa bandeja de bronze de Corinto. Como Agamémnon examinasse a bandeja com atenção, Trimalquião disse-lhe:
- Sou o único a possuir Corinto verdadeiro.
Eu esperava que, com a sua fatuidade habitual, ele mandasse que lhe trouxessem a baixela de Corinto. Mas fez melhor:
- Talvez perguntes a ti mesmo porque sou o único a possuir Corinto genuíno. Porque o mercador de bronze a quem o compro chama-se Corinto. Ora, a que se pode chamar coríntio senão  ao que vem de Corinto? Não julguem que sou idiota. Sei muito bem qual é a origem do bronze de Corinto. Quando da tomada de Tróia  Aníbal, um indivíduo astuto, autêntico camaleão, reuniu todas as estátuas de bronze, ouro e prata numa única pira e chegou-lhe fogo. Ao fundirem, formaram um bronze misturado. (...) Foi assim que nasceu o bronze de Corinto, de tudo um pouco, mas nem uma coisa nem outra.Perdoai-me o que vou dizer: eu prefiro o vidro, pelo menos não tem cheiro.»
[E a propósito do vidro]:«Houve (...) um operário que fez uma garrafinha de vidro inquebrável. Foi recebido pelo Imperador, com o seu presente; depois (...) atirou-a ao chão. O Imperador ficou horrorizado. Mas ele apanhou a garrafinha; tinha-se amolgado (...). Então tirou um martelinho do bolso e tranquilamente reparou a garrafinha. Depois disso convenceu-se de que poderia agarrar os testículos de Júpiter, sobretudo quando o Imperador lhe disse:- Há mais alguém que conheça esta receita para fazer vidro? (...) Quando ele disse que não, o Imperador mandou cortar-lhe a cabeça: é que, se a coisa se espalhasse, o ouro não serviria para nada.»


Seria esta obra, ou parte dela, uma crítica à corte do Imperador Nero, como Tácito defende nos Anais:« (...) debaixo dos nomes dos jovens sem pudor e das mulheres perdidas, ele traça a narrativa do deboche do príncipe e seus requintes mais monstruosos e envia-lhe esse escrito lacrado. Depois parte o selo, com receio de que este servisse mais tarde para fazer vítimas.»?






03 abril 2013

Das iguarias bizarras e da Ilíada em nova versão ou a extravagante ceia de Trimalquião



«(...) foi servido um conjunto de acepipes muito variados(...) sobre a baixela das entradas estava colocado um burro de bronze de Corinto com um duplo cabaz, contendo, um azeitonas verdes e, o outro, azeitonas pretas. Por cima do burrinho, duas travessas, dispostas em tecto, com o nome de Trimalquião e o seu peso em prata gravados nos bordos. Pranchas ligadas suportavam leirões polvilhados de mel e dormideira. Havia também salsichas ferventes numa grelha de prata e, por baixo da grelha, ameixas da Síria com bagos de romã.(...).»
«A estas palavras, quatro dançarinos avançaram ao som de música e tiraram a tampa da baixela. Vimos então, no fundo, aves de capoeira , tetas (sic) e, no meio, uma lebre ornamentada de penas, que a tornavam parecida com Pégaso. (...) nos cantos da baixela, quatro Mársias[ sátiros], segurando pequenos odres donde se escapava uma salmoura apimentada que escorria sobre peixes que nadavam nessa espécie de euripo. (...)»
« Um grupo de declamadores entrou imediatamente (...). Trimalquião sentou-se numa almofada e, enquanto os homeristas dialogavam em versos gregos (...) ele lia  o libreto latino, salmodiando. Depois, pedindo silêncio, disse:
- Sabeis que história estão eles a declamar? Diomedes e Ganimedes  eram irmãos. A sua irmã era Helena. Agaménnon raptou-a e ofereceu em troca, a Diana, uma corça. E agora Homero conta como os Troianos e os Parentinos andam em guerra. Naturalmente o vencedor foi Agaménnon e casou a sua filha com Aquiles.(...)»
[Um pouco mais tarde, após outros efeitos cénicos de grande impacto]:« (...) olhei para a mesa. Já aí tinham colocado uma bandeja com bolos; no meio erguia-se um Priapo de pastelaria, cuja veste (...) estava carregada de frutas de toda a espécie e de cachos de uvas.(...) Todos os bolos e todos os frutos, assim que foram tocados, começaram a deitar suco de açafrão e o jacto importuno chegou mesmo até nós.»

Petrónio, Satíricon, s.l., Europa América, 1973





01 abril 2013

A HORA DA ESTRELA

  

"Três décadas e meia após a morte de Clarice Lispector, a Fundação Gulbenkian apresenta a exposição A hora da Estrela, integrada nas comemorações do Ano do Brasil em Portugal. Divulgar a obra de uma das mais destacadas vozes da literatura brasileira é um dos objetivos desta exposição, que ocupará a Galeria de Exposições Temporárias do Museu Calouste Gulbenkian entre 5 de abril e 23 de junho.
Aproximar as gerações mais novas da sua obra é um dos objetivos da exposição, que tem a coordenação e curadoria de Júlia Peregrino (a mesma coordenadora de Fernando Pessoa, Plural como o Universo), mas também do escritor Ferreira Gullar, Prémio Camões 2010. A exposição já foi apresentada no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Brasília e em Bogotá, tendo sido visitada por mais de 700 mil pessoas.
A galeria de exposições temporárias do Museu receberá a mostra tal como foi vista no Brasil, dividida em seis núcleos, e onde se pretendem recriar ambientes dos seus livros ou passos da sua existência. Textos, fac-símiles, fotografias e documentos pessoais são mostrados nesta exposição, que também recria ambientes e cenários que inspiravam a escritora. Cartas de Erico Veríssimo, Carlos Drummond de Andrade, Lygia Fagundes e muitos outros, ajudam a conhecer melhor a personalidade de Clarice.
Nascida na Ucrânia, em 1920, Clarice Lispector chegou ao Brasil com menos de dois anos de idade. Antes de se mudar para o Rio de Janeiro, em 1937, viveu em Alagoas e em Pernambuco. Passou muitos anos fora, acompanhando o marido diplomata, mas nunca se desligou do Brasil, onde morreu em 1977. Perto do coração selvagem foi o primeiro dos seus 26 livros, hoje publicados em mais de 20 línguas."

(Do "site" da Fundação Calouste Gulbenkian)