28 outubro 2015

JÚLIO DINIS, TRIPEIRO

= Porto, monumento a Júlio Dinis, foto de 6-9-2015 =
 
«Queria-se ele [João Semana] com a carne bem assada e o arroz no forno, açafroado - esses dois importantes elementos de gozo para os paladares portugueses; queria-se com o prato clássico da orelheira de porco e até com aquele outro prato, tão castiço como qualquer período de Fr. Luís de Sousa - prato que valeu aos Portuenses um epíteto gloriosamente burlesco;» --- As Pupilas do Senhor Reitor, capítulo 18.

22 outubro 2015

A BIBLIOTECA

A biblioteca – disse Borges em "A Biblioteca de Babel" –, sobreviverá à extinção da espécie humana. Estive ontem na Biblioteca Municipal dos Coruchéus, em Lisboa, e publiquei estas fotos no feicebuque, a execrável rede social niveladora de classes e estados de alma. Uma nossa amiga comentou que os Coruchéus é uma biblioteca com muitas actividades. Estou inteiramente de acordo, eu próprio tive a experiência disso.

16 outubro 2015

DEMÓCRITO E HERACLITO

Sobre o Demócrito que surge na primeira página das “Pupilas” – já aqui tratado por vagos intelectuais e conspícuas apreciadoras de arte – tenho nesse livrinho aí em cima um texto muito interessante: “Lágrimas de Heraclito defendidas em Roma pelo Padre António Vieira contra o riso de Demócrito (1674)”. Um cheirinho: «E se o fim destes dous filósofos (como verdadeiramente era) foi manifestar ao mundo o desconcerto do seu estado e persuadir aos homens o erro dos seus juízos, a desordem dos seus desejos e a vaidade das suas fadigas, também para este fim tinha muito maior razão Heraclito de chorar, que Demócrito de rir.» E outro: «é o homem risível, mas nascido para chorar; porque se a primeira propriedade do racional é o risível, o exercício próprio do mesmo racional e o uso da razão é o pranto.» --- Agora sim, acho que este blogue está a subir de nível.

12 outubro 2015

O Pároco da Aldeia (saloia)


‘É-lé Graviel’, disse este [o sacristão], por fim, com um sorriso. ‘Você hoje campou. O patrão é festeiro; fica o moinho a dormir! Hem? Galdere; não é assim? Mas c’os diabos! Não sei como não vieste cá dormir. Botas os olhos acolá para o arraial. Vês? Duas bolacheiras e a Tia Sezila com queijadas’” (13).
O Pároco da Aldeia” é um conto que terá sido escrito em 1844, reportando-se a narrativa a 1825, uma vez que é a data que figura no frontispício. Já José Leite de Vasconcellos o toma como retrato dos saloios (14), e tornou-se numa referência importante para a caracterização destes (15).
Poder-se-ia pensar que Alexandre Herculano era, ele próprio, de origem saloia. Mas não. O autor nasceu em Lisboa, em 1810. Numa primeira aproximação, um pároco de aldeia remete, em imaginação, para alguma zona de remota província, de preferência no norte do país. No entanto, correspondendo com uma exactidão que se diria milimétrica, às características até agora registadas das gentes saloias e da sua terra, incluindo a relação com a cidade, a acção decorre algures nos arredores de Lisboa. E se estes arredores, por mais próximos que lhe fossem, mantinham um cariz arreigadamente rural e provinciano, então poderá ser certo que para Herculano e para os alfacinhas de um modo geral, a província (também ao serviço do procurado bucolismo romântico) estava às portas da cidade.

É notável a força e o rigor que o autor imprime às personagens; mas também o carinho e humanidade com que as trata. São provavelmente inspiradas em figuras que conheceu, justamente no âmbito das relações que os citadinos mantinham com aqueles que desde tempos imemoriais teriam eles próprios apelidado de saloios.

In: Território e Identidade: Aspectos Morfológicos da Construção do Território e a Identidade Saloia no concelho de Cascais, tese de mestrado não publicada, p. 115

CHE

E aqui está o Che: corresponde?


DEMÓCRITO Vs HERACLITO?

Ora aí estão, a par, as duas faces da mesma moeda humana: umas vezes mais um que outro, quem se livra destes extremos, sempre em tensão? Por alguma razão foi o pintor levado a não pintar um sem o outro e eles lá estão, ao nosso dispor e disposição. Resta a dúvida quanto ao modelo do Demócrito...



09 outubro 2015

SVETLANA, MEU AMOR

 

Cansadas de apostarem em cavalos errados, as casas de apostas finalmente acertaram. O Murakami vai ter de continuar a correr sozinho - os ténis quase rotos.  Algum dia será, nem que seja na Eternidade... Por agora ficamos com uma mulher que conhece o estertor do "homem soviético". O que isso seja, não sei, não li o livro, mas vou procurar informar-me. 
Entretanto, estou a ficar farto disto, vou-me embora pra Pasárgada.
 
 

07 outubro 2015

JÚLIO DINIS e ALEXANDRE HERCULANO

«(...) Este romance das "Pupilas" é a realização dum pensamento filho das impressões que, desde a idade de doze anos, tenho recebido das sucessivas leituras  do "Pároco da Aldeia". O meu reitor não fez mais do que seguir, a passo incerto, as fundas pisadas que o inimitável tipo criado por V. Exa deixou na sua passagem.»
--- Da carta de Júlio Dinis para Alexandre Herculano - Porto, 7 de Abril de 1867.

06 outubro 2015

ESTA É IMPORTADA DO FEICEBUQUE - ORA AGUENTEM-SE LÁ, BLOGUEIROS!


HÁ TRÊS ANOS, apresentando na Gulbenkian  a antologia organizada por CLARA ROCHA  com o título A CANETA QUE ESCREVE E A QUE PRESCREVE – DOENÇA E MEDICINA NA LITERATURA PORTUGESA, disse João Lobo Antunes que os alunos de uma sua unidade lectiva na Faculdade de Medicina de Lisboa – qualquer coisa como "MEDICINA E LITERATURA" – desconheciam quase em absoluto a personagem João Semana de Júlio Dinis. Lembrei-me disto – que ouvi directamente do professor (não me foi contado) – , no momento em que re-re-re-releio As Pupilas do Senhor Reitor, romance parcialmente escrito em Ovar, numa casa rural que hoje está dentro da cidade, onde o autor presenciou  os amores ingénuos dos camponeses, as desfolhadas, a vida de aldeia. É romance fraquinho, têm-me dito. A opinião de Eça não era diferente, se avaliarmos pelo que deixou escrito na morte do grande escritor: “Viveu de leve, escreveu de leve, morreu de leve”. Que posso fazer? Deixar aqui algumas imagens de mestre Roque Gameiro (1864-1935) que ilustraram edições de As Pupilas com a certeza de que tão belas aguarelas não podem provir de um romance vulgar.
 

JÚLIO DINIS e OVAR

Estive no passado mês de Setembro em OVAR no festival literário que lá decorreu. Foi a oportunidade para conhecer a casa onde JÚLIO DINIS viveu durante algum tempo e onde escreveu "As Pupilas do Senhor Reitor". Aqui deixo as fotografias.

05 outubro 2015

Será isto?



Hendrick ter Brugghen. Democritus. 1628.

O rir dos Demócritos de que se fala aqui em baixo?


"As Pupilas do Senhor Reitor" de Júlio Dinis, 30 Outubro, 20h30


A abrir:

"José das Dornas era um lavrador abastado, sadio, e de uma tão feliz disposição de génio, que tudo levava a rir; mas desse rir natural, sincero, e despreocupado que lhe fazia bem, e não do rir dos Demócritos de todos os tempos - rir céptico, forçado, desconsolador, que é mil vezes pior do que o chorar..."

in "As Pupila do Senhor Reitor" de Júlio Dinis, I Capítulo