07 agosto 2017

CAIU UM AVIÃO!

«JOÃO-MARIA ESTAVA DE CÓCORAS, FAZENDO CACA NO QUINTAL, QUANDO TUDO ACONTECEU. PERCEBEU, PRIMEIRO, QUE UM RUÍDO SEMELHANTE AO DESMORONAR DAS FRAGAS NUMA PEDREIRA crescia de longe ao seu encontro e vinha sobrepor-se à sonatina das ondas e ao tráfego agoirento das cagarras.»  --- JOÃO DE MELO, O Meu Mundo não É deste Reino, Capítulo 13, Edição Visão / D. Quixote, Julho de 2003.
Agora dirão as leitoras tratar-se de mais um exemplo de literatura escatológica. Imagino a justa indignação, as leituras da Comunidade destravadas pelas vertentes lívidas do mau gosto. Por acaso, até é um fragmento importante do imaginário da Ilha: o acidente do Lockheed L-749-79-22 Constellation, vôo Paris-Nova Iorque, em 28 de Outubro de 1949. Deu-se no Pico da Vara e nele morreram 48 pessoas, entre elas, figuras notórias à época, o pugilista Marcel Cerdan, a violinista Ginette Neveu e o seu irmão Jean Neveu, pianista.
Leia-se que é um belo capítulo do livro.

3 comentários:

sincera-mente disse...

A curiosa coincidência evocada pelo escritor fez-me recordar que, 'in illo tempore', o momento de fazer caca, fosse na retrete de tábuas do quintal, fosse no recôndito frondoso de um figueiral, ou a coberto das tojeiras nos confins do vinhedo, era muitas vezes associado a algo de perturbador ou importuno, como a passagem de um aeroplano, um inesperado aguaceiro, ou a arreliadora aproximação de um cão vadio ou de um adulto com que se não contava, acidentes que, não raro, obrigavam à inopinada interrupção do acto e a uma precipitada retirada.

Manuel Nunes disse...

Caro Fernando,
Obrigado pelo apontamento escatológico :)
Sei de quem, estando de cócoras na vinha, viu surgir ante si uma grossa cobra. Há que ter cuidado, estas espécies arrastam-se muito pelos recônditos frondosos...

sincera-mente disse...

... e se metem no primeiro buraco que encontrem... Tal como os sardões, outra aparição aterradora para o pacato defecante... Nesses difíceis transes nem havia tempo para compor as calças.